quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

[RE]:Born

Ao longo de nossas vidas, parece que vivemos em "ciclos". Eu, pessoalmente, tive vários deles. Os mais antigos, não consigo me recordar plenamente, mas fizeram parte de quem eu sou. Pra deixar claro, isto não é uma autobiografia ou qualquer coisa parecida. Isso é uma reflexão para que eu mesma possa entender e juntar os quebra-cabeças.

- 2004: mudança de colégio. Entrei para um grupo de teatro que me fez capaz de expor os meus sentimentos através da arte, e, assim, diminuir um pouco a minha introversão.
- 2005: o primeiro ano que eu entendi um pouco o que era bullying, mas não aceitava que era isso que estavam fazendo comigo. Meu irmão nasceu e comecei a realizar as responsabilidades.
- 2006: agora sim entendi o que estavam fazendo comigo. Não era fácil. Eu era apenas uma criança querendo ser criança e julgada por não seguir o rápido "amadurecimento" dos colegas. Nesse ano, entrou uma pessoa diferente na minha família, que na época parecia tudo tranquilo.
- 2007: conheci a pessoa que se tornou a minha amiga de mais longa data até hoje. Minha vó faleceu e eu não entendia muito isso. O bullying aumentou ao ponto de pedir para mudar de colégio novamente.
- 2008: comecei o ano em uma escola. Ainda era a estranha da turma, mas me conformava. Fui assaltada e tivemos que mudar de casa, e, consequentemente, de escola. Lá, eu vivenciei o bullying MESMO. Ao ponto de me chutarem, de jogarem as minhas coisas no chão, rasgarem as minhas coisas, rirem de mim e ser xingada... Desmaiar de tanta pressão e acordar com os mesmos rindo e apontando pra minha cara. As relações em casa também não estavam fáceis.
- 2009: Troquei de colégio novamente. Finalmente me encaixei numa "turminha". Foi a primeira vez que eu percebi que havia algo de estranho mentalmente comigo. Ninguém acreditou, achou que era frescura. Fui vivendo do jeito que dava. Comecei a ser nômade, mudando da casa de um parente para o outro.
- 2010: Fui correr atrás de um dos maiores sonhos da minha vida. Dancei muito. Consegui concretizá-lo e estava tudo pronto pro ano seguinte. Ainda uma nômade. Me senti abandonada. 
- 2011: 6 meses de espera intermináveis e muita dança. 6 meses de felicidade, apesar de todas as confusões. Eu finalmente realizei um dos meus sonhos. Eu estava no intercâmbio.
- 2012: 6 meses de alegria e montanhas russas emocionais. 6 meses de vazio profundo por ter deixado a "vida perfeita" para trás.Sentimento de abandono novamente. De cara com a "forçada independência". Voltei a dançar, Corri atrás e tive uma ótima oportunidade de crescer profissionalmente, mesmo sendo menor de idade.
- 2013: Trabalhando mas enfrentando a própria mente. Primeiro beijo. Primeiro namorado. Primeira "minha casa" e primeira vez que me deixei ser iludida.

Agora, vem a parte crucial do que me fez ser quem eu realmente sou hoje.
- 2014: PROCURA
Eu não podia mais ficar sem amparo. Eu sabia que precisava de ajuda. Primeira psiquiatra. Primeiras medicações. Federal. Pressão. Términos. Pressão. Não ter mais controle de mim. Pressão. Largar medicações. Pressão. Ajuda! Internação. Seguir em frente. Largar a vida que tinha e seguir em frente em um novo ambiente. Mudanças.
- 2015: ACEITAÇÃO
Eu fui tola em pensar que simplesmente mudando de ambiente eu ficaria sem nenhum problema. Tola mesmo. As "crises" ficavam cada  vez piores.  Eu aceitei que aquilo não era saudável e que precisava sim continuar procurando ajuda. Não existe um potinho mágico com regen de HP que faça tudo desaparecer. Faculdade nova, amigos novos, relacionamento novo. Outro ciclo, outros traumas. Mas eu consegui finalmente aceitar quem eu sou e não ter mais vergonha disso.



- 2016: RENASCIMENTO
É mais que óbvio que este ano não foi fácil para ninguém. E eu sei que não vai ser uma virada de dia que vai resolver tudo. Mas, nesse ano, eu aprendi muito. Eu abri os meus olhos. Eu caí, caí mais uma vez e caí com tudo. E quem aguentou todo esse tranco merece um grande chocotone da Nestlé, porque olha... Cheguei num ponto sem saída. Ou era a minha saúde ou era o fim. Eu resolvi lutar. Se eu estou aqui até hoje depois de tudo que aconteceu, é porque eu tenho algo muito importante para realizar ainda. Se Deus não me deixou ir embora e insiste em mim, então eu vou honrá-Lo. Tenho a minha fé. Fé Nele, fé nos meus amigos, na minha família, no meu amor, no amor próprio, na minha força de vontade e, com certeza, em mim mesma. Eu não tenho mais medo de mim. Eu renasci. Eu controlo o meu corpo, eu controlo a minha mente e não deixarei tudo isso voltar. Eu sou quem eu sou, quem eu era, quem eu tive que ser e quem eu me tornei depois de tantas experiências.

"I must change my life so that I can live it, not wait for it" -  Susan Sontag, Reborn: Journals and Notebooks, 1947-1964


Apesar de tudo, termino esse ciclo com gratidão. Com um sorriso no rosto mesmo quando as lágrimas caem. Eu estou aqui. E eu estarei até quando realmente for a minha hora de estar.